O telhado de casa não aguentou a chuva torrencial. Entrei em desespero ao ver meus móveis boiando e a enchente tomando conta da rua. Não se via mais asfalto, tão-somente um rio raivoso que levava tudo à frente. O terremoto então começou a se manifestar. Pânico. Pessoas correndo, tropeçando com a força da água, sofrendo quedas inevitáveis. Via-se, ao longe, as lavas do vulcão se preparando para imergir. A tragédia estava completa, pensei eu. Ledo engano. O furacão de categoria cinco complementou a destruição total da minha cidade. Consegui me abrigar embaixo de uma placa de aço, mas desmaiei em poucos minutos.
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(Barulho do monitor de frequência cardíaca)
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Sai esbarrando na aglomeração diária. Os espaços estavam estagnados, não havia nem como respirar em meio a tanta gente. As ruas tomadas, pessoas revezando um teto, a sensação de claustrofobia era fatal. Sentia o suor alheio molhando meu corpo, enquanto eu tentava chegar à repartição superlotada para conseguir um pouco de comida.
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(“Está acordando”)
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Não aguentava mais a falta d’água. Meu corpo definhava aos poucos e minha mente não mais funcionava como outrora. Quando a população foi obrigada a raspar os cabelos para não propagar doenças, tive a certeza de que a esperança havia acabado. Antes, rodízio de água para higiene; depois, para beber. Morreram aos poucos, desidratados e enlouquecidos.
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(“NÃO SOU LOUCO!”)
(“Mantenha amarrado”)
(“ME SOLTA!”)
(“Injeta mais um pouco de sedativo”)
(“NÃO!”)
(“Pronto, agora dorme um pouquinho mais”)
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(Telefone tocando)
(“Sanatório, boa tarde”)