No tempo do colégio, eu já reparava em Pedro Paulo. Seus cabelos eram fininhos, cortados assim, meio de lado, deixando os olhos verdes à mostra. Apesar da estatura levemente menor que a dos outros garotos da nossa sala, tinha o talento de fazer todos rirem das suas piadas e caretas engraçadas, um sarro em forma de menino.
Passamos dos dez aos quinze anos de idade na mesma classe e nunca tinha rolado nada, apesar dos meus sentimentos, ao longo do tempo, começarem a revelar algo mais que amizade.
Foi então que, na festa da Glorinha, nosso primeiro beijo aconteceu. Lembro daquele dia com muito carinho, de mãos dadas, nos aproximamos lentamente analisando o movimento um do outro, com receio de cometer alguma gafe. E demos gargalhadas ao batermos os dentes quando nos beijamos, ambos sem experiência. Depois, à vontade, acendemos nosso primeiro cigarro juntos, escondidos da mãe da debutante.
Pedro Paulo e eu não nos desgrudamos desde então e resolvemos casar com vinte e três anos, quando nos formamos, ele em engenharia e eu em psicologia.
A convivência é cruel. Dois anos de casados. Começou com as toalhas molhadas em cima da cama, a falta de pontaria no vaso, a pasta de dente sem a tampa, as roupas jogadas no chão e a bagunça no armário. Depois, aos dez anos, os gases constantes e futebol com os amigos quatro vezes por semana. Vinte anos, surdez seletiva, cegueira deliberada quanto ao lixo acumulado e as reclamações cada vez mais constantes da sogra. Que vontade de esganar o Pedro Paulo!
Mas chegamos aos quarenta anos de casados, podem acreditar. Pedro Paulo me enchia o saco de propósito, trocava de canal durante a novela e roncava como descarga desarranjada. E a louça? Meu Deus, se dependesse dele, a louça ficaria na pia durante toda a eternidade.
Quando Pedro Paulo me deixou, eu fiquei em fúria! A gente tinha um trato de nunca se separar. Puxa, foi chamado pro céu e me deixou aqui, já faz três anos. Estou até pensando em mudar o nome dessa crônica, porque cada vez mais percebo que te amo e nunca deixei de te amar, Pedro Paulo, e essa é minha crônica de amor pra você. Mas olha, se você me perturbar quando eu chegar aí, vou fazer o maior escândalo, já sabe, né?!