No começo da década de noventa, estreou o filme “Esqueceram de mim”. Contava a história de um garoto que ficou sozinho em casa e teve que fazer armadilhas, enfrentando bandidos com armas improvisadas. Um grande amigo de infância e eu ficamos fissurados com o longa-metragem, imaginávamos participando das cenas, despistando homens maus que, na imaginação, nos perseguiam. Nossa luta quixotiana foi travada no clube do qual somos sócios, onde nossos pais nos deixavam o dia inteiro, quase todo fim de semana, para brincar. Chico Ferreira, meu amigo, era extremamente criativo – não à toa, hoje é um premiado publicitário – e passou a traçar o plano para pegarmos os bandidos fictícios com armadilhas das mais diversas. “Antes de tudo, precisamos ter uma sala secreta para guardar nossas armas”, ele decidiu. Mas onde acharíamos um lugar desses em pleno clube? Foram horas de procura, nos enfiamos em cada buraco para encontrar um local seguro. Após muitas broncas dos seguranças por termos entrado em áreas restritas, finalmente visualizamos o esconderijo perfeito – que não posso revelar onde era, pois continua secreto até hoje. Ali disfarçamos estilingues – que seriam usados apenas em caso de emergência – e gravetos de vários tamanhos para prender os ladrões em armadilhas. Conseguimos alguns elásticos – aprendemos a atirá-los com a propulsão dos dedos – e uma corda – o trunfo máximo da rasteira nos malfeitores. Pronto, estávamos preparados. Que viessem atrás de nós. Demorou bastante, já era noite… e nada. “E agora, Chico? O que fazemos?”. “Que tal a gente tomar um guaraná enquanto eles não chegam?”. “Ótima ideia!”. Assim que viramos a esquina do bar social, nossas mães estavam de braços cruzados, enfurecidas pelo nosso sumiço durante o dia todo. Tomamos uma bronca daquelas. Mas o que elas esperavam? Não é fácil enfrentar bandidos. Muito menos encontrar a sala secreta de armas. No fim, o tempo passou, as reformas aconteceram no clube e não sei se o esconderijo ainda está lá, mas a memória de um dia tão feliz e da minha amizade de infância nunca será apagada.
