Não era um dia comum, o Brasil jogaria a terceira partida na Copa do Mundo do México contra a Irlanda do Norte. A seleção canarinho tinha craques como Sócrates, Júnior, Müller, Careca, Casagrande e Zico. O lateral Leandro acabou sendo cortado de última hora, entrando em seu lugar o Edson Boaro, do Corinthians. Porém, diante de sua contusão, no jogo contra a Irlanda foi substituído por Josimar, que estava sem contrato com nenhum clube.
Na maternidade Pro-Matre, em São Paulo, naquele mesmo dia, havia uma movimentação para o nascimento do terceiro filho de Maria Regina. A família se reuniu em dupla comemoração. O jogo do Brasil seria às dez da manhã. E o médico avisou que só faria o parto depois que a partida terminasse. O quarto estava absolutamente lotado. Uísque e cerveja à vontade, o pai da criança não deixou faltar nada para os convidados/torcedores.
O jogo começou. Logo no início, aos quinze minutos, Müller cruzou rasteiro na área, Careca recebeu e meteu para dentro. A maternidade foi à loucura. Abraços efusivos, brindes e gritos. A partida continuou. “Passa, Josimar”, o tio berrava. “Eles insistem em passar pro Josimar, olha o Sócrates livre, cacete”, o outro reclamou. A tensão ia e voltava. Maria Regina sentia contrações, enquanto o médico fumava na varanda do quarto. “Vai, Müller, solta a bola… não, pro Josimar não”, ele disse após uma longa tragada.
Foi então que o improvável aconteceu. Josimar dominou na intermediária, deu dois passos e bateu de bico na bola. O efeito enganou o arqueiro Pat Jennings e um golaço no ângulo aconteceu. A primeira reação foi o silêncio. Em poucos milésimos, ainda sem crer na pintura que havia acabado de presenciar, a torcida quase pôs o hospital abaixo. “Porra, o Josimar é gênio”, vibrou o futuro padrinho do bebê.
A partir daí os visitantes não pararam mais. Ainda viram o Careca receber a bola perto da área, passar pro Zico, que devolveu de calcanhar, servindo o artilheiro para finalizar no canto esquerdo do goleiro. BRASIL TRÊS A ZERO, fora o baile.
O porre chegou no auge quando Maria Regina já estava na sala de parto. Um dos convidados perguntou ao pai do bebê “você não vai entrar pra ver o menino nascer?”, ao que retrucou “você quer que eu vomite na criança?”.
Entre o meio tempo do nasce, não nasce, o padrinho fazia campanha para que o garoto chamasse Josimar. Os bêbados acharam uma excelente ideia, a homenagem seria digna ao herói do jogo. Uma caravana havia se formado para ir ao cartório assim que a criança aparecesse na janelinha da sala.
Até que saiu a enfermeira dizendo: “A mãe mandou avisar que o Pedro nasceu”. Imaginem se não fosse minha mãe e o cartório estivesse aberto naquele doze de junho de oitenta e seis… talvez hoje eu atenderia por Josimar.