Todos os dias, enquanto a tempestade cai, você arruma sereno os vasos e conversa com cada planta na varanda. Quando a intensidade aumenta, você se senta na antiga cadeira de palha, agradecendo a Deus a paz interior que sente. A respiração não é a mesma, está lenta e difícil. Não importa, você fez uma redoma de tranquilidade em meio à guerra, sem deixar de orar por seu povo. Foi exatamente dele que vieram os ensinamentos de “mente sã, corpo são”, “se eu não estou bem comigo, não posso auxiliar o próximo” e “vença a si mesmo, antes de vencer as dificuldades”. Respirando… sempre… antes melhor do que agora. Você sabe que a luta não significa fazer do próprio interior um caos, mesmo porque, enquanto pôde, se juntou ao exército na batalha. Nunca odiou o inimigo, mas não admitiu a invasão à sua terra e o extermínio da sua gente. Agora, quando os efeitos da guerra afetaram seu corpo, resta cuidar da sua alma, do seu templo e cultuar seus ancestrais com o orgulho de sempre. Você foca na respiração, precisa se esforçar para completá-la. Sabe que sua existência nessa terra está chegando ao fim e logo verá seu amor, dará um abraço longo e apertado. O Japão proporcionou tanto, tantas lembranças você tem da infância, as lindas e perfeitas flores da cerejeira, em seu cor-de-rosa respira vida, respira… respira… quando seu avô ensinou meditação, você não imaginava que hoje seria tão difícil respirar. Se inspira nas carpas que, tiradas da água, vão sossegando, mesmo respirando cada vez menos. Assim como elas, você aceita a realidade tranquilo, sem desespero. Sua terra tem tanto conhecimento, especialmente a tranquilidade ligada às técnicas de respiração e, mesmo respirando mal, é incrível como sua tranquilidade permanece intacta. Você agradece o ar límpido do oriente, por ter nascido no Japão e fazer parte dessa gente privilegiada. E hoje, vendo o sol nascer na sua querida cidade natal, sentado nessa varanda em sua antiga cadeira de palha, vê sua respiração parar lentamente… sem perder a tranquilidade.
