O samba seguia o mesmo ritmo, a batucada constante, o agudo do bumbo e o som marcado dos tempos. A música não parava, o sambista mantinha a cadência sem nenhum respiro.
Até que o Kid Morangueira, como se autointitulava, popularizou o breque no samba… as palavras faladas no descanso dos instrumentos começaram a fazer parte da arte de Moreira da Silva, que declamava o bastidor da canção numa ironia sem igual.
Introduziu a vírgula no samba, revelando o porquê bateram na sua nega, a bronca no procedimento dentário, a saudação ao seu amigo urso e explicando que o acertar no milhar fora um mero sonho, além das várias passagens com Etelvina.
As músicas do expoente do samba de breque se notabilizaram nos anos trinta, lembrando-nos – especialmente nos dias atuais –que a vida precisa de um breque para concatenar as ideias e que o bom-humor é o elemento invencível contra o tédio.
Kid Morangueira, o Rei do Gatilho, ficou quase cem anos nessa terra com o lema: “Fale da minha vida quando a sua for um exemplo. E quando você acreditar que a sua é um exemplo, se dará conta que não terá desejo de falar da minha”. E tenho dito!