O paciente se queixou da sua incapacidade em se relacionar, de maneira que o médico sugeriu uma análise clínica, com base em experimentos práticos para chegar ao diagnóstico. O doutor, encostado no balcão, observava o comportamento de Márvio, o paciente, na casa noturna.
Na primeira hora, Márvio viu chegar uma linda garota de olhos claros, saia xadrez, dançava de um jeito diferente, tomava cerveja na caneca e tinha voz rouca. O médico viu Márvio levar um soco no rosto, uma bela maneira de ser dispensado por ela.
Ainda meio desnorteado, Márvio foi à caça. Topou com uma muda, apesar de estar claramente molhada, não reagira a nenhuma palavra do que ele disse. Com receio de outra agressão, deixou pra lá, partiu para outra.
Foi agarrando uma loira, peluda. E ela, supreendentemente, retribuiu com algumas lambidas em sua orelha. O segurança empurrou Márvio, falou que ele era sem-noção e determinou que se afastasse.
O paciente, então, encostou no balcão, ao lado do médico. Pediu uma cerveja ao barman e perguntou ao doutor:
– E aí? Qual o diagnóstico?
– Você é um desastre, Márvio.
– Por que, doutor?
– Porra. Tentou beijar um escocês, depois xavecou a estátua da fonte e, pra finalizar, agarrou o cão guia do deficiente visual. Qual é o seu problema?
– Aí, doutor, é que sou muito distraído, acho que não penso antes de fazer as coisas.
Ele esticou a mão pra pegar a garrafa de cerveja.
– Largue isso já!
– Mas por quê? Não posso beber?
– Porque você não está segurando a garrafa, mas sim o pau do segurança.
O paciente foi atirado pela janela e caiu estatelado no gramado da frente. Acordou vendo um ser, todo de branco, que lhe deu a mão.
– Eu morri? Um anjo veio me salvar.
– Cacete, Márvio, sou eu, seu médico, é que coloquei o jaleco.
– E aí, doutor? Acha que tenho solução?
O médico fez uma prescrição no papel timbrado. Márvio se animou e foi correndo pra casa. Abriu a porta, acendeu a luz e leu a prescrição com bastante dificuldade: INDICO USO DE ÓCULOS.