Dentro da enorme exposição com vários artistas nacionais e internacionais, havia uma sala minúscula, cuja entrada ostentava uma placa com os dizeres “As obras de P. H. Souza”. Quadros em três das paredes eram marcados por traços coloridos e abstratos, e contrastavam na imensidão branca do ambiente, que contava apenas com um banco no centro.
Nele, um garoto de aproximadamente sete anos, sentado de costas para a porta, cabelo preto de franja bem encorpada em corte tigela, ruminava goma de mascar com olhar fixo no quadro central.
O entendido em arte Jean Louis, junto com seu assistente, adentrou à sala de exposição do artista desconhecido, excitado com a oportunidade de descobrir o promissor autor dos quadros.
Ele contemplava com muito cuidado cada qual, como se lesse os tons e os traços abstratos, tentando decifrar a escola artística da qual partira tal gênio da pintura.
– Tem um quê transgressor… interessante… as cores remetem a Kandinsky*… interessante. Sem dúvida o artista estudou na Europa. A mistura de cores tem lógica, veja, Patrick.
– Realmente impressiona, Jean Louis.
– Podemos fazer um dinheirão com isto. Tenho que ser o primeiro a chegar nesse artista e empresariá-lo. Sabe quem é ou quem fala por ele?
– Só sei que ele próprio pagou para reservar essa sala.
– Ótimo, ótimo. Se não foi convidado, sem dúvida ainda não foi descoberto. É a nossa chance, Patrick… veja esse traço aqui, o degradê mostra a genialidade.
O pequeno garoto, ainda sentado no banco, fez uma breve intervenção:
– É só um traço vermelho, tio.
Os dois se viraram para saber quem ousaria interromper aquela conversa intelectual.
– O que você entende disso, garoto?
– Dá pra fazer facinho, facinho.
– Você é muito presunçoso para dizer que poderia fazer essa arte com facilidade.
– Não, tio. O senhor não entendeu. Eu fiz esses quadros.
– Você está maluco, garoto? Quem é esse menino, Patrick? Qual o seu nome, moleque?
– Pedro Henrique.
– Pedro Henrique de quê?
– Souza.
Patrick, o assistente, foi até a central de informações e voltou quase sem cor.
– Esse menino é o expositor. “P. H. Souza”. O pai bancou o espaço para ele expor.
– Meus parabéns, garoto. Você é um gênio, sem dúvida tem os dotes de um grande artista. Tem aulas há muito tempo? Talvez nem precise disto, né?! Evidente que não. Artistas desse gabarito nascem com o dom. Eu posso te empresariar, garoto, você vai ser muito grande, confie em mim.
O menino deu de ombros.
– Diga, garoto, como você chegou nessa obra-prima?
– Como eu disse, facinho, facinho. Foi apenas usar a inteligência artificial.
*nota