Sempre me senti desconfortável usando biquíni. Nas poucas vezes que tentei vesti-lo, parecia estar sob a vigilância das pessoas. Meu pai, quando me viu com um, me deu uma surra daquelas. Talvez por ser muito tradicional, não admitisse me ver assim sequer nos meus momentos de diversão.
Naquele carnaval na praia, resolvi enfrentar tudo e todos. Usaria um biquíni bem chamativo, verde fosforescente, não teria medo de julgamentos, do meu pai ou de quem quer que fosse.
O corpo é meu, exponho como quiser. Afinal, já estava com idade para tomar minhas próprias decisões, casamento consolidado e dois filhos lindos. E outra coisa, no carnaval pode tudo.
O bloco estava saindo, o som a todo vapor e um grande isopor de cerveja gelada, vodca tônica e catuaba à disposição dos foliões.
Fui ao banheiro – àquela altura já sem tanto constrangimento em virtude do grau etílico – e vesti meu lindo biquíni. Surpreendi-me com a leveza do momento, várias pessoas usando biquínis ainda mais extravagantes que o meu. Era carnaval, alegria, hora de deixar os preconceitos de lado. Abracei os que estavam à minha volta, fizemos a ala do biquíni, sem medo de ser feliz. A euforia tomava conta de mim, pulava, brincava o carnaval, ria como nunca. Festa completa com o meu lindo biquíni verde fosforescente.
Foi então que minha mulher disse:
– Jorge, pelo menos esconde as bolas, seus filhos estão vendo.