Fui criado numa família contra preconceitos. Cor, raça, sexo, condição sexual, nada, absolutamente nada justifica a discriminação. Há uma exceção, porém: não tolero gente chata. Considero esse preconceito saudável e necessário, afinal o chato se mete nas conversas, bebe do copo alheio, arrasta os piores assuntos por períodos que parecem intermináveis e querem explicar tudo, até quando se pergunta “como vai?” o chato quer explicar. Malditos chatos. Não há mau-hálito, fedor, perdigotos, ronco que sejam tão insuportáveis como a chatice. Em certa ocasião, escutei de um sábio: “deixe os chatos com outros chatos, assim a chatice os irá entretê-los e, enquanto isso, nossa vida pode seguir”. O pior, chato que é chato não permite ser chamado de chato, acaba até se ofendendo com o famigerado título. Por quê? É óbvio. Ninguém quer ser chato. Talvez algum dia se invente uma cura para isso (viva a ciência!). Apesar de ser otimista inveterado, eu não acredito nessa hipótese. A chatice é a grande praga da humanidade. Censura tampouco é a solução, até os chatos tem que falar, o galho é sermos forçados à convivência. Métodos, precisamos de métodos. Corte rápido, invoque compromisso inexistente, finja miopia, carregue um patuá energizado contra-PDNR (Pessoa Desagradável Não Requisitada). Ou beba, beba muito, encha a cara. A bebida é a criptonita da chatice. Mas cuidado, alguns bêbados não chatos têm vocação para chegar à chatice quando alcançam determinado nível do pileque. Mesmo eu, quando tomo umas e outras, rezo a Deus para que a praga da chatice não tome conta de mim. E quando um chato se intrometer no assunto, pedindo explicações sobre a piada, sentencie: “Não vou explicar nada pra ninguém! Afinal de contas, quem é o chato aqui?”. Fico pensando… será que o chato sou eu?
