CHUVA

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– Oh, Zé, não foi embora não?

– Ih, rapaz, não vou me arriscar na chuva.

– Sei como é. Eu também vou me abrigar aqui, que é mais seguro.

– Então senta aí, vamos abrir mais uma.

– Tião, desce mais uma pra gente.

– Oh, beleza, canela de pedreiro, geladaça. Vai ajudar a passar o tempo.

– Minha mulher vai ter que entender o atraso. Essa cidade não é brincadeira, os alagamentos são perigosíssimos.

– Tião, traz uma porçãozinha de tremoço pra tira-gosto.

–Vamos bater uma sinuca?

– É o jeito né?! Uma cachacinha pra acompanhar?

– Opa, tô dentro!

– Já ganhei três partidas, hein?! E a chuva…

– Pois é, mais uma cerveja então.

– Já estamos aqui há quase cinco horas. O Tião já tá olhando feio.

– Mas a culpa é da chuva, ué.

– Ei, vocês dois, tô fechando. Tá aqui a conta.

– Vai ter coragem de jogar a gente na rua, sem pensar na chuva?

– Ah, seus vagabundos, não chove há uma semana, o dia tá lindo, não vai chover nem a pau. Vocês sempre com uma desculpa pra ficar no bar.

– Você acha que é quem? O garoto do tempo? Como você pode ter certeza de que não vai chover? São Paulo é uma cidade enorme, chove num lugar e ao mesmo tempo não chove no outro.

– Ah, Zé, se quiser enganar sua mulher com essa estorinha de chuva, te jogo um balde d’água e empresto um guarda-chuva. Quem sabe ela finja que acredita e te engane enquanto o Ricardão foge pelos fundos.

Pedro Fleury

“Retome o hábito da leitura. Contos impactantes. Textos com humor. Escrita de qualidade.”

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