Às quintas tem feira aqui no bairro que frequento. Como a grana tá curta, costumo ficar rondando a barraca de pastel, vendo se algum distraído não esquece um pedacinho por ali ou, de bom grado, me dá uma mordida.
Eu vou passeando por entre as barracas. Às vezes filo um amendoim, outras uma castanha, enfim, o que sobra. Os feirantes ficam putos. Óbvio. Ninguém quer um pidão perto do comércio. Mas também, não precisam me enxotar. E quando digo enxotar, é enxotar mesmo, com interjeição. “XÔ”. Ainda batem o pé. Toda vez é isso.
Sem dúvida o mais agressivo é o Manoel. Êta sujeito miserável! Não foi uma, nem duas vezes que me deu chute na bunda. Vassouradas são constantes. Minha mãe, então, coitada, foi xingada de cada palavrão escabroso.
Na última quinta, porém, foi a gota d’água. O filho da puta do Manoel gritava: “Olha o melão, olha o melão”. A dona Sebastiana, uma simpática senhora que nunca se esquece de me dar um pedacinho de comida, perguntou a ele: “É doce?”, ao que o mal-educado debochou: “Não, é melão. Se fosse doce eu estaria gritando ‘olha o doce, olha o doce’”.
Juro, não sou de briga, mas achincalhar a querida dona Sebastiana me tirou do sério. Levantei voo e, com a minha mira precisa, caguei na cabeça do vagabundo.
Os feirantes caíram na risada, até me deram algumas migalhas naquele dia. Eu fiquei feliz da vida, tanto pela vingança, quanto pela farta refeição. Essa semana estou sobrevoando todas as feiras que conheço, comendo de tudo.
Manoel que me aguarde na próxima quinta-feira!