Quando eu tinha uns sete anos, meu pai me presenteou com o livro “O bichinho da maçã”, do Ziraldo. Li uma porção de vezes, dava risada com o bichinho contador das histórias mais incríveis do mundo.
As ilustrações eram divertidas, os animais simpáticos, o tigre, o elefante e até mesmo a cobra (confesso que nas primeiras vezes me assustei com a cara de má dela, mas depois percebi que era inofensiva).
Anos se passaram e, já adulto, resolvi reler o conto. A par da história engraçada, percebi que, em realidade, Ziraldo conta a história do início do mundo, com Adão e Eva. E se a maçã não tivesse sido mordida?
No livro, Ziraldo mostra o bichinho alertando a pessoa que morderia a maçã: “Tem gente”. E imediatamente, em resposta, ouviu: “Chiiii… tem bicho”… e a maçã foi jogada para o alto. Moral da história: o bichinho salvou a humanidade e “todos foram felizes para sempre”.
Ziraldo era assim, tinha o poder de salvar a humanidade com suas crônicas e humor fora do comum. Usava a sátira para humanizar as pessoas, seus erros e acertos. Dizia que “enquanto houver ser humano com suas carências, inseguranças e dúvidas, haverá sátira”. Nesse particular, ponto para Adão e Eva. O que seria de nós sem as sátiras?
Nesse ano, perdemos Ziraldo, mas aqui deixou Menino Maluquinho, Turma do Pererê, Supermãe. Pena que, dessa vez, o bichinho da maçã não conseguiu salvar a humanidade da partida do gênio Ziraldo.
O legado de sátiras, mais humanas do que quaisquer outras, nem sua partida é capaz de apagar. “Ou morro ou fico velho”, disse numa ocasião. Mas conseguiu ficar eternizado por meio da literatura, nos inspirando sempre. Ziraldo vive e a humanidade ganha com cada rabisco seu.
Prefiro pensar que não perdemos Ziraldo. Ganhamos de Ziraldo.