É dos carecas que elas gostam mais? No tempo em que eu tinha cabelo, essa era a máxima exaltada pela marchinha de carnaval. As campanhas de inclusão dos carecas estavam a todo vapor. Me lembro até de uma propaganda de vestibulandos que haviam entrado na faculdade e tinham as respectivas carecas elogiadas pelas mulheres.
E meu cabelão, definitivamente, não fazia sucesso. Era sempre rejeitado, elas me dispensavam, riam do meu topete, falavam que estava fora de moda.
Por isso me empolguei com a ideia de um dia ficar careca e ter as mulheres aos meus pés. Afinal, dizem que a calvície vem por parte de mãe, e o povo de lá é mais liso que pobre em fim de mês.
Percebia dia a dia meu travesseiro ficando quase preto de tanto cabelo que caía. Estava chegando a minha hora. Assim que ficasse careca, ia tirar o atraso. Fazia planos, arranjei uma lata de cera parquetina, contando os meses para lustrar a careca.
Numa manhã, durante o café, minha mãe falou “nossa, filho, você está bem careca”. Ahhh, mãe não mente. Tinha chegado a hora: eu era careca oficial. À noite, arrumei o resto de cabelo pra deixar meu charme à mostra, dei uma leve enceradinha, vesti minha melhor camisa, passei um perfume caro, que meu tio trouxe de uma viagem a Foz do Iguaçu, e parti pra conquista.
Me lembro como se fosse ontem. Era festa na casa da prima do Reinaldo, meu vizinho. Só tinha gatinha. Quando cheguei, todas me olharam. Estufei o peito, senti meu corpo raquítico se transformar num monumento, ajeitei o saco na cueca e, claro, afastei ao máximo o cabelo pra mostrar a careca.
Vi duas moças me encarando. Elas cochichavam coisas que eu não conseguia ouvir. Estava certo de que falavam da minha beleza. Elas riram. Mas não parecia ser pra mim, e sim de mim. “Não sei porque lembrei de bola de boliche”, uma disse pra outra gargalhando, enquanto me olhava. Um grupinho atrás soltou um “aeroporto de mosquito”. E três meninas que estavam no bar dispararam “Kojak”.
Porra, tudo aquilo era pra mim? Sim, tudo era pra mim, virei motivo de piada. Não bastasse, os malandrões da festa fizeram minha careca de espelho e usaram um carrinho miniatura dizendo que iam subir a Serra Pelada. Minha noite acabou quando um deles botou fogo com o isqueiro no pouco cabelo que me restava e anunciou que ia acabar com o que sobrou da Amazônia. O que eu não daria pra ter meu cabelão de volta…
Repito a pergunta: É dos carecas que elas gostam mais? UMA OVA!