Epaminondas era conhecido como o rei da noite. Subia a Rua Augusta acelerando seu karmann ghia, ao som de “ele é o bom, é o bom, é o bom”, arrancando suspiro da mulherada. Não deixava ninguém chegar perto do carro, tinha vaidade exagerada e maltratava os mais humildes com nariz em pé e orgulho no alto.
As orgias eram constantes, sua libido não tinha fim, o que massageava ainda mais seu ego. O rei da noite era uma máquina de luxúria, ficou conhecido por enganar as mulheres, fingindo que as amava, no puro objetivo de levá-las para a cama.
Os anos se passaram e os bens materiais se tornaram a obsessão de Epaminondas. Não podia ver alguém com um carro melhor que fazia questão de superá-lo. Podia se endividar, mas a inveja o cegava e ele bancava tudo para esbanjar seu padrão acima dos outros.
Não podia ser contrariado. A ira tomava conta de si e partia para as agressões. Tinha certeza de que era o mais forte, o melhor, o mais rico, o mais lindo, o mais poderoso. Ninguém mexia com ele, o temor tomava conta até dos mais próximos.
Todo mundo envelhece e com Epaminondas não foi diferente. Não queria sair do sofá, uma preguiça invencível, o oposto da disposição que tinha quando mais jovem.
Com isso veio o aumento de peso, a gula, o exagero no álcool e logo o rei da noite passou a rei do garfo. A separação de sua mulher foi inevitável, perdera todo encanto de garoto, não tinha charme, não ostentava riqueza, não saia mais de casa.
Passou o tempo. As dívidas foram acumulando após tantas extravagâncias. Epaminondas, então, tornou-se avarento. Não tomava nem banho, se recusava a gastar água, gás, luz, não consumia mais nada… nada mesmo.
Epaminondas não aprendeu nada com a vida.
Quando o braço da morte veio buscá-lo, se libertou dos sentimentos mundanos.
Até chegar no além…
As moças o elogiavam, inflou-se novamente seu orgulho; as belas do lugar o excitavam, queria rolar com elas no imenso gramado verde; cobiçou a evolução dos que lá estavam, sentindo uma inveja incontrolável; não parava de comer os frutos proibidos; ficava revoltado com as broncas dos superiores; não queria sair da rede para as tarefas diárias.
Pois é. Epaminondas, de fato, não aprendeu nada.
– Epaminondas, você conseguiu gabaritar todos os pecados capitais. Preparei essa apresentação sobre virtudes que vou passar no retroprojetor. Após, vamos tentar novamente – disse o Supremo. – Agora sim, volte, Epaminondas.
A vida recomeçou. Dia após dia. Ano após ano.
Hoje Epaminondas – com nome diferente – é dono de zona, retém a gorjeta das profissionais, tem inveja dos seios delas, chega a ser orgulhoso demais para admitir que queria ser mulher, é viciado no amendoim da boate e tem preguiça de aprender a dançar no pole dancing. De quebra ainda despertou a ira do além:
– Porra, Epaminondas, não aprendeu nada mesmo.