PÓS-TESTAMENTO

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Inferno

O Diabo estava sentado em frente à mesa de despachos quando seu assistente anunciou:

– Próxima é a Dona Margot Castro Albuquerque, a cafetina que fez testamento de todos os bens pras putas.

– Aqui está a ficha dela. Favorecimento e exploração da prostituição. Concupiscência. Excesso de expressões chulas. Ganância. Alcoolismo. Essa está fácil. A porta do inferno já está aberta – o Capiroto riu.

Margot entrou batendo sua bengala, como de costume. Olhou o ambiente e logo falou:

– Que escritório chinfrim. Nem pra colocar móveis de madeira de verdade.

– Já começou demonstrando arrogância. Mais uma anotação na ficha.

– Que porra de ficha? Essa sala é de última categoria. E que calor infernal é esse? Não tem ar-condicionado?

– Você ainda não viu nada – disse após soltar uma risada macabra.

Ela se sentou e o encarou.

– Escuta, onde é a banca do bicho?

– Que banca?

– Ué, jogo do bicho. Não tem por aqui?

O Diabo fez cara de interrogação.

– É que olhando pra você me deu vontade de jogar no veado.

– Está me chamando de viado?

– Não… de veado… por causa dos chifres. Se bem que, com essa cara que você tem, poderia ser viado mesmo.

– Chega! Nunca fui tão desrespeitado.

– Desrespeitado? E eu? Cheguei aqui e nem me ofereceram uma bebida. Rapaz – Margot se dirigiu ao assistente – traga um uísque… com gelo… e nada de uísque vagabundo… só tomo acima de doze anos.

O Diabo não acreditava no que via. Acendeu um cigarro enquanto pensava no que faria com a velha.

– Ah não. Vai fumar aqui nessa sala minúscula? Eu sou ex-fumante. Não posso com cheiro de cigarro.

Ele ficou imóvel.

– Apaga essa porcaria – ordenou Margot, tomando o cigarro da mão do Diabo. – Agora vamos falar da minha hospedagem. Vou deixar umas coisas claras. Primeiro, não consigo dormir com claridade. Segundo, nada de barulho enquanto eu estiver relaxando. E terceiro, exijo bidê na minha suíte, sofro muito de uma hemorroida terrível.

– A senhora só pode estar louca.

– Senhora não. Senhorita. Eu nunca me casei.

– Não entendeu que isso aqui é o inferno?

– Ah, meu querido. De inferno eu entendo. Meninas boas vão pro céu e meninas más vão pro inferninho… eu tive três inferninhos. Não tente me ensinar – ela riu.

O Capeta rosnou.

– Digo mais, em pouco tempo você vai ver se eu não abro uma filial da minha zona aqui no inferno. Deve ter um monte de puta disponível. E outra coisa, do jeito que você está me tratando, vou ter que te mandar um convite negativo pra inauguração: “Sr. Diabo, com muito prazer venho comunicar-lhe que você NÃO está convidado para a abertura da Casa da Margot, a ser realizada no dia tal, a tal hora”.

– Quer saber? – o Diabo chamou o assistente. – Manda essa velha maluca lá pra cima, Deus que se vire com essa bucha.

 

*continuação do conto “Testamento”.

Pedro Fleury

“Retome o hábito da leitura. Contos impactantes. Textos com humor. Escrita de qualidade.”

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