Heraldo se contorcia numa intensa vontade de ir ao banheiro após o exercício matinal e acabou entrando na cabine da academia mesmo. Calma lá, o senhor vai ter que estar completando o formulário para poder estar usando o vaso – exigiu um senhor de óculos fundo-de-garrafa e cabelo cujo lado direito emprestava ao esquerdo. Como assim, meu amigo? – se espantou Heraldo fazendo força para evitar um desastre escatológico. A privacidade acabou, cidadão, está na nova Constituição. Eu sei disso, mas não posso nem ir ao banheiro na privacidade? A privacidade ACABOU, o senhor não entendeu? Entendi, meu amigo, agora preciso resolver meu problema imediatamente, você me vigiando ou não. Claro, quanto a isso fique tranquilo, mas o senhor vai ter que estar preenchendo a fichinha e vai ter que estar assinalando qual será a modalidade de dejetos. Por favor, cara, eu não tô aguentando mais, preencho depois. Infelizmente não vou poder estar abrindo exceção, regra é regra. Tá bom, vou preencher – o suor escorria do rosto de Heraldo. O senhor vai ter que estar se apressando porque depois de estar verificando se o senhor declarou os dejetos corretamente vou ter que estar indo a outro lugar para estar fiscalizando o uso de outros banheiros. Não tô conseguindo segurar, tá quase saindo. Então o senhor não vai poder estar usando o vaso – a pressão de Heraldo caia, as pontadas na barriga faziam com que ele perdesse as forças. E então, senhor, por que não está preenchendo a fichinha? Esquece… com essa burocracia acabei me cagando todo.
